A inadimplência dos consumidores do Brasil atingiu patamares recorde, o que evidencia a dificuldade do brasileiro em manter suas contas em dia. O cenário de juros elevados e de renda baixa são desafios do poder público, mas a falta de educação financeira dos consumidores também é um componente importante neste contexto. De acordo com uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas CNDL e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offerwise Pesquisas, realizada com consumidores com contas em atraso há pelo menos três meses, 37% dos inadimplentes residentes nas capitais do país admitem que não fazem gestão dos próprios ganhos e gastos, sobretudo porque fazem o controle de cabeça (17%).
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As principais razões da falta de controle orçamentário citadas pelos inadimplentes sugerem que a resistência ao controle financeiro não ocorre apenas pela falta de interesse, mas também por experiências frustrantes e por desafios estruturais relacionados à instabilidade da renda: 16% afirmaram que já observaram seus gastos, mas não observaram resultados significativos, o que os desmotivou a persistir na prática. Além disso, 15% atribuem a falta de controle à ausência de disciplina para gerenciar as despesas. Já 14% destacam a dificuldade de manter um rendimento fixo ou o desconhecimento exato de seus ganhos monetários.
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“É preocupante que um percentual tão expressivo da população não utilize um método sistemático para organizar seu orçamento. Não importa a ferramenta, o importante é que o consumidor não se desorganize financeiramente. O fundamental é sempre registrar tudo o que se ganha e se gasta, e jamais confiar na memória porque ela falha”, alerta o presidente da CNDL, José César da Costa.
O levantamento mostra ainda que 63% dos consumidores fazem o controle do orçamento, principalmente usando o caderno de anotações (27%) e planilha no computador (23%).
Entre os que controlam seu orçamento, a maior parte das anotações refere-se às despesas essenciais como mantimentos, produtos de higiene, luz, água, aluguel, condomínio, mensalidades de escolas (85%).
Já 77% controlam os rendimentos considerando a soma de todo dinheiro que recebem como salário, mesadas, aluguéis, ajuda de familiares, “bicos”, pensão, aposentadoria. Em seguida, 75% monitoram as prestações de compras de itens como roupas, imóvel, carro etc., enquanto 70% controlam os gastos não essenciais, como salão de beleza, lazer, saídas a bares e restaurantes, lanches, estacionamentos, taxi, roupa e presentes.
35% dos inadimplentes estão esperando ganhar mais dinheiro para começar a organizar a vida financeira
Para quase metade dos entrevistados (47%), a inadimplência foi um episódio isolado, uma vez que enfrentaram essa dificuldade financeira pela primeira vez. Em contrapartida, 26% afirmaram que essa situação se repetiu, caracterizando uma segunda ocorrência, enquanto 17% afirmaram que a inadimplência é um acontecimento recorrente.
Para entender melhor a forma como os consumidores percebem sua vida financeira, a pesquisa investigou afirmações que mais faziam sentido para os entrevistados, revelando padrões de comportamento, desafios enfrentados e mudanças na gestão do orçamento, sendo as de maior concordância: 41% buscam o melhor custo benefício em todas as compras, 35% estão esperando ganhar mais dinheiro para começar a organizar a minha vida financeira, 29% buscam estar sempre informado sobre finanças, organização e educação financeira e 28% admitem que às vezes se descontrolam e gastam mais do que deveriam.
Apesar das dificuldades financeiras, a autopercepção dos inadimplentes sobre a gestão do orçamento é bastante diversificada evidenciando a diferença entre conhecimento e execução do controle dos gastos. 41% avaliam seu conhecimento ótimo ou bom, enquanto 39% o classificam como regular e 18% como ruim ou péssimo.
“Os dados indicam que, para muitos, a gestão de dívidas se torna um desafio contínuo. Embora uma parte significativa das pessoas experimente a inadimplência como um evento isolado, muitas dificuldades recorrentes como instabilidade de renda, falta de planejamento financeiro e controle dos gastos eficaz dificultam os consumidores de saírem da inadimplência”, destaca Costa.
12 de agosto de 2025